A aterrissagem dos pés
Segue texto de minha autoria que foi publicado em 01/fevereiro/2013 no site Corrida Natural.
A aterrissagem dos pés
(e minha teoria sobre a dor no topo do pé)
Neste texto vou considerar como natural apenas a mecânica de corrida na qual o antepé (ou mediopé) é a primeira parte a tocar o solo. Vou desconsiderar o estudo que encontrou a pisada iniciando pelo calcanhar em populações descalças. Inclusive tal estudo já foi tema de post anterior do Sérgio Rocha, bem como, já foi tema de post, também dele, entitulado “A tal dor no topo do pé“, para a qual apresentarei minha opinião.
Pois bem, a mecânica começando com o
antepé está tão associada a corrida descalça que esta é descrita, de
forma simplista, como correr na ponta dos pés ou correr com a frente dos
pés. Tal descrição induz nos iniciantes duas oportunidades para tensão
desnecessária nos pés. Primeiro acredita-se que o calcanhar nunca deve
repousar no solo. Segundo que devemos aterrissar com os dedos. A
primeira induz o corredor a permanecer todo o tempo do contato na região
da almofada (bola) dos pés. Isto é um fator de stress para a
panturrilha e o tendão de Aquiles. A segunda induz o corredor a apontar
os dedos em direção ao chão antes do contato. Está errado. As dedos
ficam naturalmente curvados para cima antes e no início do contato com o
solo e, assim como o calcanhar, devem repousar no momento posterior.
Apontar os dedos para baixo vai produzir bolhas e, acredito, pode até
mesmo quebrá-los! Por outro lado, não deixá-los tocar o chão depois da
aterrissagem, vai criar tensão desnecessária na musculatura extensora
e/ou flexora dos dedos.
No livro “Barefoot Running Step by Step”,
Ken Bob Saxton dá uma grande ênfase a aterrissagem dos pés. Ela se
inicia pela almofada, com os dedos curvados para cima. A seguir o
calcanhar toca o solo quase simultaneamente com os dedos. É a sequência
almofada/calcanhar/dedos (sequência 1-2-3). Usando-a você evita o que
Ken Bob chama de “efeito ventosa”. O que seria este efeito? Bem, o arco
do pé funciona como uma mola e é achatado ao suportar o peso do corpo.
Se você aterrissasse com os dedos e calcanhar primeiro, o arco, ao ser
achatado, iria empurrar os dedos para frente e o calcanhar para trás
provocando fricção na pele dos mesmos e levando a bolhas.
Ken Bob não sabe dizer se curvar os
dedos para cima é algo natural, mas que pode ser instintivo. De fato,
ele não deu tanta importância a este detalhe da técnica até a sua
décima-nona maratona. Na oportunidade, devido a fadiga, o “instinto” não
estava funcionando e bolhas começaram a surgir nos dedos. Aí ele
“aprendeu” a levantá-los conscientemente e evitou a formação das bolhas.
Indo além do guru, minha opinião é que
este movimento é natural sim e está além de uma resposta apenas
instintiva. Penso desta maneira, pois nunca me atentei para este detalhe
da técnica até ler o livro do Ken Bob no final de 2011. Também, como
disse em post anterior, não gosto de correr mentalizando a técnica e
nunca corri pensando neste detalhe. No entanto, quando vejo fotos minhas
anteriores (e posteriores) a esta data, me observo realizando o
movimento de levantar os dedos (veja aqui). Mesmo usando uma huarache bem fininha, me vejo fazendo este movimento, como no final deste vídeo.
Bem, aqui vem minha teoria sobre a dor
no topo dos pés. Não fiz nenhum estudo, é só minha percepção e baseada
nos relatos de que descalços, e usuários de huarache, quase não
apresentam tal dor mas que ela é relativamente comum em quem inicia
usando VFF e outros minimalistas fechados. De fato seria falta de
fortalecimento da musculatura extensora intrínseca e extrínseca dos
dedos. Como considerei o movimento de curvar os dedos para cima como
natural, descalços, usuários de huarache e usuários de tênis minimalista
tentarão realizá-lo durante a corrida. Em quem usa huarache ou está
descalço, tal movimento será realizado sem resistência. Por outro lado,
no VFF ou nos tênis minimalistas o cabedal destes promoverá uma
resistência ao movimento dos dedos, ou seja, será necessário maior força
da musculatura extensora do dedos.
E você? Qual a sua experiência?
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